Investigação

Motivo da transferência foi falta de soro antiofídico em Canguçu

Família fala em negligência no atendimento e Secretaria Estadual de Saúde afirma que não há doses suficientes de soro antiofídico na região

Atualizada às 19:03

Um óbito ocorrido por picada de cobra na última terça-feira lançou um sinal de alerta na região. O caso foi registrado em Canguçu. Após ser atendida no Pronto Socorro (PS), Anelda Pieper Peter, 72, precisou aguardar por cerca de duas horas até ser deslocada para atendimento em Pelotas. Ela chegou ao município desacordada e morreu no leito da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

O motivo da transferência foi a falta de soro antiofídico em Canguçu. O medicamento é a principal arma no tratamento de pessoas intoxicadas por picadas de animais peçonhentos. Ele possui anticorpos que neutralizam a ação do veneno. Em entrevista ao Diário Popular, o delegado adjunto da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Gabriel Andina confirmou que as doses disponíveis hoje nos 22 municípios da região são insuficientes.

Segundo ele, o desabastecimento ocorre pelo menos desde o início do ano passado, e ocorre em todo o país. O Ministério da Saúde não estaria repassando soro suficiente aos estados. Na região, as poucas doses são mantidas em Pelotas e Rio Grande, referências no atendimento. "Eventualmente mandamos para outros municípios, mas estamos fazendo milagres pra atender às ocorrências."

O medicamento é distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde às unidades de todo o Brasil, mas em maio de 2014 o órgão emitiu nota técnica sobre problemas contratuais no processo de aquisição. De acordo com Andina, ainda não há definição de quando serão restabelecida as remessas do soro antiofídico às unidades de saúde.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2015 foram registrados 150 mil casos de acidentes por animais peçonhentos no país. No Rio Grande do Sul foram 4.934. Destes, 11 morreram.

De acordo com o biólogo da Vigilância Ambiental de Pelotas, Marco César Bastos, 90,5% dos casos de pessoas picadas envolvem serpentes do gênero Bothrops, como a Cruzeira. As poucas mortes ocorrem justamente pelo uso incorreto ou tardio do soro - ou pela falta dele. 

Ao ser picado, a orientação é de sempre procurar atendimento médico. Bastos explica ainda que a gravidade varia de caso para caso, dependendo da quantidade de veneno inoculado, fatores nutricionais e até do peso corporal da pessoa, por exemplo. "Cada organismo responde de um jeito, mas crianças e idosos podem ser mais suscetíveis."

O caso
Anelda Pieper Peter, estava no campo de sua propriedade, no segundo subdistrito de Canguçu Velho quando foi picada por uma cobra Cruzeira pouco acima do pé. O incidente ocorreu por volta das 19h de segunda-feira (1º).

Após ser levada para o PS do município, teria esperado até duas horas até ser transferida para Pelotas. De acordo com familiares, a demora ocorreu porque o veículo esperou outros pacientes para serem encaminhados junto com ela.

Parentes reclamaram de negligência no atendimento e registraram boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Pelotas.

De acordo com eles, o hospital não tinha soro antiofídico e a medicação para vítima foi de soro apenas para a dor. 

No relato à polícia consta ainda que durante a viagem de quase 55 quilômetros pela BR-392, Anelda teria desmaiado e chegado desacordada em Pelotas. No hospital, a vítima foi imediatamente levada para a UTI, recebeu o soro antiofídico, mas acabou não resistindo e morrendo por volta das 19h de terça-feira.

O PS deve emitir hoje nota oficial sobre os procedimentos adotados com relação à paciente. O transporte de pacientes do Hospital de Caridade para Pelotas é feito em ambulância fornecida pela prefeitura. De acordo com a Secretária de Saúde de Canguçu, Luciane Bastos, o governo apenas disponibiliza o veículo. "A solicitação de transferência e os detalhes partem do Hospital e dos médicos."

Principais características da Cruzeira
Presença de fosseta lateral
- Através da fosseta loreal (órgão termorreceptor) a serpente percebe ondas de calor de outros animais. 
- Cabeça triangular com escamas pequenas.
- Pupila vertical.
- A Cruzeira (Bothrops Alternus), também conhecida como Urutu, possui um dos venenos mais tóxicos entre todas as cobras encontradas em território brasileiro.
- Ela apresenta coloração marrom, com desenhos na forma de gancho de telefone, com a borda branca. 
- Ocorre em todo o estado do Rio Grande do Sul, principalmente em vegetação rasteira, perto de açudes e plantações.
- Seu período de atividade é crepuscular (no final da tarde) e à noite.
- Uma cobra adulta da espécie pode chegar a 1,60 metros de comprimento.

Fonte: CIT-RS 

O que fazer em caso de acidentes com animais peçonhentos?
• Manter a vítima deitada e calma
• Lavar o local da picada com água e sabão
• Hidratar a vítima com goles de água
• Manter o local da picada elevado
• Procurar imediatamente o serviço médico

Mais informações
Em casos de dúvidas ou acidentes com animais peçonhentos, é possível encontrar mais informações ligando de forma gratuita para o Centro de Informação Toxicológica (CIT) do Rio Grande do Sul. O serviço está disponível 24h por dia pelo número 0800-721-3000

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